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Produtividade x Ócio: O Custo [In]Visível do Produtivismo

  • Foto do escritor: Elienay Brandão
    Elienay Brandão
  • 23 de out. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de out. de 2024


Imagem de um robô com um fundo branco e vários desenhos de robô em vermelho

A falta de tempo é um discurso comum e que já foi utilizado por qualquer pessoa em algum momento da sua vida. No entanto, esse discurso tem se amplificado e se naturalizado cada vez mais em uma sociedade de pessoas sempre correndo e sempre exaustas.


Aristóteles, filósofo grego, via o ócio como uma condição essencial para a busca do conhecimento e do bem-estar. Porém, com o avanço da sociedade moderna, expandiu-se uma ideia de produtividade exacerbada. O tempo livre, antes visto como fundamental para o desenvolvimento pessoal e o equilíbrio emocional, agora é encarado como desperdício. O tempo de lazer e descanso perdeu seu espaço em meio à pressão constante por resultados.


Em uma cultura produtivista, o ócio é uma ameaça, pois permite tempo para a reflexão crítica sobre a sociedade, o trabalho e as estruturas de poder. O ócio oferece essa pausa necessária, permitindo que as pessoas reavaliem suas prioridades e proponham novas formas de organização social, levando, potencialmente, a transformações mais justas, mas que ameaçam as estruturas de poder econômico vigentes.


No cenário capitalista contemporâneo, a lógica é clara: cada minuto de tempo livre deve ser preenchido com mais trabalho. A ideia de descanso é vista como inimiga da produtividade. Isso contribui para uma alienação profunda, onde o indivíduo se sente preso a um ciclo interminável de obrigações, metas e prazos. A ausência de pausas adequadas e o aumento das pressões no ambiente de trabalho levam ao esgotamento físico e mental, com consequências devastadoras, como o burnout.


O psiquiatra e psicanalista francês Christophe Dejours, em sua obra Psicodinâmica do Trabalho, discute como o trabalho, ao se tornar fonte de frustração e tensão devido às metas e prazos cada vez maiores, pode gerar sofrimento psíquico. Em vez de ser um espaço de realização, ele se transforma em uma fonte de angústia. A busca incessante por produtividade seduz os trabalhadores com promessas de sucesso meritocrático, mas acaba mascarando a sobrecarga emocional e física dos trabalhadores.


O impacto disso é visível com o aumento exponencial de trabalhadores diagnosticados com burnout e outras doenças relacionadas ao trabalho. Cada vez mais pessoas relatam exaustão, ansiedade e crises emocionais, resultado de um ritmo de vida incompatível com as necessidades humanas. Estamos vivendo em um estado de constante correria e esgotamento, e essa rotina tem levado muitos ao adoecimento. O próprio corpo humano, quando submetido a essa corrida desumana, passa a ser visto como um obstáculo a ser superado — algo que adoece, se desgasta e precisa ser medicado para continuar funcionando.


Essa cultura do produtivismo nos ensina que devemos estar sempre em movimento, sem espaço para pausas ou descanso — sem tempo de ócio. No entanto, é fundamental questionarmos esse modelo que valoriza o trabalho constante em detrimento da saúde mental. Precisamos resgatar o tempo livre como um direito essencial e como um espaço para recuperar nossas energias, nos conectarmos com nós mesmos e refletirmos sobre nossas vidas.


Ao contrário do que é amplamente difundido, o ócio não é inimigo da produtividade, mas sim parte integrante de um equilíbrio necessário para o bem-estar físico e mental. Pessoas com tempo de descanso adequado, acesso aos direitos básicos e espaços de lazer e cultura são pessoas mais saudáveis e, por fim, mais dispostas a produzir com mais vontade e qualidade.




 
 
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