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Por que estamos tão eufóricos com Fernanda Torres no Oscar?

  • Foto do escritor: Elienay Brandão
    Elienay Brandão
  • 26 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de fev.


Fernanda Torres  no jantar dos indicados ao Oscar

Não há como negar, esta award season foi dela. Fernanda Torres pode até não ter sido a atriz que mais ganhou prêmios, mas, sem dúvida, foi a que mais se destacou em premiações e festivais internacionais de cinema. A BBC chegou a classificar "Ainda Estou Aqui" como o dark horse da temporada — termo usado para designar um competidor subestimado que surpreende ao se destacar.


Muito desse sucesso internacional se deve ao talento magistral de Fernanda Torres e à sua atuação arrebatadora em “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. Mas, além disso, o apoio massivo dos brasileiros na campanha do filme ampliou sua propulsão, levando-o a se tornar uma das produções nacionais mais indicadas ao Oscar, incluindo as categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme. O feito só perde para "Cidade de Deus", que recebeu quatro indicações em 2004.


Não é novidade que os brasileiros são extremamente ativos nas redes sociais. O Brasil é o segundo país que mais acessa essas plataformas no mundo, e o frisson causado por Fernanda Torres nas premiações tomou conta do imaginário coletivo e da internet. Fernanda é uma figura amplamente conhecida no país, não apenas por ser filha de Fernanda Montenegro — uma das personalidades mais importantes do teatro, cinema e televisão brasileiros —, mas também por sua irreverência, autenticidade e versatilidade, dentro e fora de cena.


Fernanda sempre esteve presente em nossas casas, especialmente por meio do sucesso de comédias icônicas como “Os Normais” e "Tapas e Beijos", cujos trechos hilários continuam viralizando nas redes mesmo após o encerramento das séries. Com isso, desenvolvemos um senso de proximidade e intimidade com a atriz. Ainda que não a conheçamos pessoalmente, sua presença constante nas telas cria uma sensação de familiaridade genuína.


O Brasil é um país isolado culturalmente pela língua. Somos a única nação lusófona da América Latina, o que cria uma barreira linguística e cultural. Embora sejamos grandes consumidores de cultura estrangeira, também produzimos música, literatura, cinema, novelas e outras expressões artísticas de altíssima qualidade. No entanto, romper esse isolamento e conquistar espaço internacional ainda é um desafio.


Quando um artista brasileiro atravessa essa fronteira e ganha reconhecimento global, sentimos como se uma ordem histórica estivesse sendo subvertida. Esse sentimento é compartilhado de forma coletiva: primeiramente pela identificação com a figura que representa esse feito e, depois, pela celebração de suas conquistas como se fossem nossas. Essa identidade coletiva se fortalece ainda mais em um país onde desafios históricos, marcados pela herança colonialista, reforçam um desejo constante de reconhecimento.


Somos um povo movido pelos afetos. Nossa história e diversidade cultural fizeram do Brasil um país de intensa expressividade emocional. Essa expressividade está profundamente enraizada em nossa sociabilidade e se manifesta em expressões artísticas como o samba e o carnaval, celebrações coletivas que dão forma e ritmo às nossas emoções.


Dessa forma, o entusiasmo pelo Oscar de Fernanda Torres é muito mais do que uma mera torcida por uma atriz talentosa. Ele simboliza reconhecimento, pertencimento e a esperança de que barreiras culturais sejam quebradas. Somando essa percepção à proximidade afetiva já existente e à ideia de superação, temos um país inteiro em estado de êxtase com a possibilidade de uma vitória na premiação mais importante do cinema mundial.


Por isso, não importa se Fernanda Torres tenha pedido calma no domingo, 02 de março de 2025, o Brasil entrará em clima de Copa do Mundo, torcendo fervorosamente por uma vitória que, para muitos, será uma forma de redenção da Academia por um resultado que nunca engolimos — a de Fernanda Montenegro não levar a estatueta no Oscar de 1999.



 
 
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