A Epidemia de Burnout: Qual a Relação entre Trabalho e Adoecimento Mental?
- Elienay Brandão
- 5 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de dez. de 2023

Numa sociedade impulsionada pelo ritmo acelerado de consumo e produção, a impressão é que a atenção à saúde mental e ao bem-estar torna-se um luxo pouco acessível. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros enfrentam a síndrome de Burnout. Paralelamente, um estudo da International Stress Management Association (ISMA) destaca que o Brasil se encontra em segundo lugar em diagnósticos, sendo superado apenas pelo Japão, onde 70% da população enfrenta esse desafio. Diante de uma epidemia de Burnout, torna-se imperativo reavaliar a relação entre trabalho e saúde mental e se questionar: de onde vem o adoecimento mental no ambiente de trabalho?
Apesar dos alarmantes índices de problemas de saúde mental entre os colaboradores, o mercado corporativo frequentemente parece isentar-se da responsabilidade nesse cenário. Na prática, o que se verifica é uma tendência à culpabilização do indivíduo, rotulado como "doente", "fraco", "despreparado" ou "instável" para enfrentar os desafios do mercado. Essa atitude contribui para a perpetuação do estigma em torno das questões de saúde mental, ao invés de abordar sistematicamente as raízes do problema e implementar medidas eficazes para promover um ambiente de trabalho saudável.
A ótica neoliberalista do trabalho incentiva a competição como forma de "motivar" a equipe, promovendo a ideia da meritocracia, que é utilizada para justificar as desigualdades de renda, argumentando que são resultado da falta de habilidades e esforços individuais. Essa perspectiva também propaga a diminuição da regulamentação do mercado pelo estado em prol do livre mercado, com uma falsa noção de "autonomia" no empreendedorismo individual, elevando cada vez mais a presença de uma população empreendedora em condições de subemprego como fonte de renda e sustento.
Algumas empresas têm direcionado investimentos para iniciativas voltadas à saúde mental. No entanto, grande parte delas se limita, predominantemente, à aplicação da estratégia de marketing relacionada ao ESG, sigla em inglês para Environmental, Social, and Governance, que representa as práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. Em vez de construir e implementar políticas efetivas para aprimorar a qualidade do bem-estar psicológico corporativo, muitas optam por uma abordagem superficial.
Está mais do que na hora de as empresas assumirem responsabilidade pelo mal-estar social que, por consequência, gera um adoecimento psíquico em seus funcionários. O trabalho, por si só, não adoece; o que adoece são as condições desumanizadoras impostas ao ser humano. Quando desumanizamos as pessoas, o que resta é um capital humano, um ativo estratégico, um meio para geração de lucros, um número ou um recurso. Essa realidade só poderá ser transformada quando começarmos a enxergar as pessoas com dignidade, autonomia e liberdade, priorizando o bem-estar social dentro das corporações. Isso inclui questões de justiça, igualdade e a criação de condições sociais que permitam a realização plena de cada indivíduo, além de rejeitar ideias reducionistas sobre as pessoas, baseadas apenas na produtividade, ignorando as questões históricas, sociais e econômicas que impactam esses indivíduos.