Devo procurar um Psicólogo LGBTQIAP+?
- Elienay Brandão
- 27 de nov. de 2023
- 2 min de leitura

O processo psicoterapêutico não é simples. Na maioria das vezes, a pessoa que busca atendimento psicológico está passando por uma fase difícil e de sofrimento emocional. Muitos desses sofrimentos são frutos de violências e opressões sociais que atravessam as pessoas de formas diferentes, seja pela sua condição social, gênero, sexualidade, cor e raça.
Embora as vivências sejam únicas e individuais, somos atravessados por questões culturais, econômicas e sociais da época e lugar em que vivemos. Por isso, nossas existências se diferenciam pelas individualidades de cada um e, ao mesmo tempo, se aproximam pelas vivências coletivas. Parece ambíguo, mas é um reflexo da sociedade e das nossas vivências. Muitas pessoas LGBTQIAP+ sofrem com a discriminação e preconceito social e familiar e crescem em um ambiente que não lhes permite ser e se expressarem da forma que são. Embora cada um tenha uma história única, esses sentimentos são vivenciados no coletivo.
Recebo frequentemente mensagens de pessoas LGBTQIAP+ em busca de terapia, e é comum que questionem se faço parte dessa comunidade. Como profissional de Psicologia, dedico-me constantemente a estudar, trabalhar e me preparar para oferecer o melhor suporte a todas as pessoas, buscando abordar cada caso de maneira ética, empática, acolhedora e autêntica. Porém, reconheço a importância da identificação no estabelecimento de vínculos terapêuticos significativos, mas além disso de levantarmos discussões sobre as experiências das pessoas LGBTQIAP+, que historicamente enfrentam diversas violações de direitos. Como psicólogo e membro da comunidade LGBTQIAP+, reafirmo meu compromisso ético com a promoção do bem-estar psicológico e a defesa dos direitos dessa comunidade.
Importante ressaltar que todos os profissionais da Psicologia devem trabalhar na promoção e defesa dos Direitos Humanos, conforme preconiza o Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005). É vedado qualquer forma de preconceito ou discriminação pela origem, classe, gênero, deficiência, raça e cor. Além disso, todo profissional deve pautar sua atuação de acordo com as resoluções do Conselho Federal de Psicologia que abordam tais temáticas, como a Resolução 01/1999, que proíbe profissionais de psicologia de atuarem em atividades que favoreçam a patologização da homossexualidade. Bem como, veta qualquer psicólogo a atuar na chamada "Cura gay". Além dessa prática ser considerada uma tortura psicológica e emocional, a orientação sexual não é uma doença, e não há cura para o que não é doença. E a mais recente Resolução CFP 01/2018 determina que, em sua prática profissional, psicólogas e psicólogos devem atuar de forma a contribuir para a eliminação da transfobia e orienta, ainda, que não favoreçam qualquer ação de preconceito e nem se omitam frente à discriminação de pessoas transexuais e travestis.
Respondendo à pergunta inicial "Devo procurar um Psicólogo LGBTQIAP+?": Isso vai muito de cada pessoa e como ela se sente no momento. O processo Psicoterapêutico é um processo muito íntimo, assustador e transformador. Saber que a pessoa à frente entende e compreende suas vivências enquanto pessoa que também já vivenciou e vivencia a experiência de ser uma pessoa LGBTQIAP+ é algo importante para você? Então, você deve confiar nesse sentimento e instinto interior e buscar um profissional com o qual você se sinta confortável para falar de forma livre, segura e autêntica.